segunda-feira, 23 de julho de 2007

O velho leão

De uma coisa ninguém pode reclamar de Antonio Carlos Magalhães: dificilmente algum governante terá lutado tanto pelo seu Estado como ele. Ele soube, como poucos, aproveitar as oportunidades e usar todo o enorme poder que conquistou e cultivou para desenvolver a Bahia.

Mas as últimas eleições encerraram o ciclo político das Diretas, Já!, que se iniciou com a distensão de Geisel, teve seu clímax com Fernando Henrique e o real, e terminou com o afastamento de quase todas as lideranças que participaram do processo constituinte.

Por isso é que a morte de ACM anuncia também o ocaso de Lula e da esquerda clássica brasileira. O velho leão morto sinaliza o fim das garras e dentes de seus adversários. A esquerda está numa encruzilhada: ou segue a velha estrada liberal, com pinceladas rosadas aqui e ali, ou entra na trilha da contestação radical. A pequena burguesia, tradicional fornecedora de militantes, prefere hoje competir no mercado a enfrentar desafios políticos. E a multidão dos mais pobres quer é dinheiro, mesmo. Ou, no mínimo, acesso a bens e serviços gratuitos. Foi para isso que elegeu, em todo o país, políticos populistas. Os campeões de votos foram os que baseiam sua atuação em donativos de diversos matizes, bolsas inclusive – e é por isso que vários parlamentares com uma folha corrida de suspeitas foram eleitos.

Esse fim de ciclo responde por boa parte da inquietação brasileira – transições são sempre angustiantes – e também pelo processo de aburguesamento do PT, hoje com a militância esfacelada, e a cada dia mais distante dos marcadores políticos que o fizeram crescer. Ao término do governo Lula o PT será apenas mais um partido político. E se não tomar cuidado, quatro anos depois desse término, no poder ou na oposição, será uma tenda monstruosa, como é hoje o PMDB, cuja proposta política é apenas uma: ser governo, a qualquer preço.

O velho leão não ia por aí: ele tinha proposta, sabia o que queria, tinha marcadores ideológicos tão claros de direita que passou a ser um símbolo dela. Símbolo assumido, diga-se de passagem. Hoje o chamam de conservador. Ele se auto-denominava liberal, defendia abertamente o capitalismo e, com todas as forças de sua alma, a Bahia. Não hesitava em usar a força, o que lhe garantiu o apelido de “Toninho Malvadeza”. E jamais cedeu a alianças de ocasião: ele simplesmente não comia no mesmo prato político da esquerda.

A direita nunca tem encruzilhadas, mas terá que achar um líder novo, ou, no mínimo, alguém que a simbolize. Esta pessoa terá que ter outro perfil: a truculência é coisa do passado, e a força é um recurso quase proibido. E terá como missão principal orientar os representantes da direita no próximo processo eleitoral.

A herança de ACM não está só na Bahia.

Nenhum comentário: