quarta-feira, 22 de agosto de 2007

O que vale é a lombada

Belém-Salinópolis, rodovia de 260 quilômetros – e 28 lombadas, contadas uma a uma por um amigo insatisfeito.

Ou seja, a cada oito quilômetros, um atestado de incivilidade. Porque não há coisa mais incivil que lombada em meio de estrada. Ela demonstra: que motoristas se excedem e pedestres andam pelo meio da estrada; que ninguém cumpre as leis de trânsito; que a rodovia é perigosa pelo simples fato de existir; que não existe fiscalização, ou, se existe, é insuficiente; e, finalmente, que as pessoas não se respeitam, não estão nem aí para a vida alheia – e, talvez, para a sua própria.

As lombadas da estrada de Salinópolis - como de resto a esmagadora maioria das lombadas construídas no Pará – demonstram mais alguma coisa: a impotência do Estado diante de seus cidadãos. Pois que as lombadas, o Contran, órgão do Ministério da Justiça, publicou a Resolução nº 39, em 21 de maio de 1998 prevendo a existência de apenas dois tipos de lombadas. A tipo 1 com comprimento de 1,50m e altura de até 0,08m (oito centímetros!), que somente pode ser instalada quando houver necessidade de serem desenvolvidas velocidades até um máximo de 20 km/h, onde não circulem linhas regulares de transporte coletivo. E a do tipo 2, com comprimento de 3,70m e altura de até 0,10m (dez centímetros!) quando houver necessidade de serem desenvolvidas velocidades até um máximo de 30km/h. Para rodovias, a Resolução prevê ampla sinalização – incluindo sinalização precária, por faixa - amplos estudos preliminares, amplos avisos.

Mas as lombadas paraenses têm alturas variáveis, de acordo com o construtor, que tanto pode ser um órgão público, como pode ser um morador das vizinhanças. Sinalização (às vezes aparece uma placa, quase em cima da dita cuja) e toda a pintura zebrada que seria necessária, pra que? A estrada de Salinópolis funciona há mais de duas décadas, e jamais foi sinalizada corretamente.

A lombada acaba sendo a brutalidade contra a brutalidade. O raciocínio é simples: se o motorista tem o direito de ir e vir na estrada em velocidade excessiva, eu, pedestre, tenho o direito de atravessá-la – ou caminhar por ela, tanto faz – quando bem entender e como quiser. Ele descumpre a lei, e eu também. Não há mediação governamental entre um interesse e outro, entre o interesse do motorista e do pedestre. Então, como diziam os antigos, em terra de sapo, de cócoras com ele: tudo se resolve a força. Põe uma lombada, e pronto. E se vierem tirar, queimem-se pneus. A demagogia fará o resto.

Queixam-se os motoristas, os transportadores de carga, as associações empresariais que usam rodovias. Mas nenhum deles toma providência para manter os carros nos limites de velocidade, e manter o respeito necessário aos demais usuários. Queixam-se os pedestres, os ciclistas, os motociclistas. Mas eu duvido que se encontre um ciclista que conheça as normas de trânsito para circular em bicicleta. Quanto aos motociclistas, sabem, mas fingem que não sabem. E os pedestres, então...

Os braços do Contran e Detrans estão ocupados demais arrecadando multas. Não dá para mediar os conflitos que o trânsito provoca – lombadas, inclusive.

Um comentário:

Anônimo disse...

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