sexta-feira, 18 de abril de 2008

Efeito bolsa

Nos dados divulgados pelo Banco Central, na oportunidade do aumento da taxa básica de juros – festejada, aliás, pelos maiores beneficiários do desgoverno brasileiro, os bancos – há uma informação que, embora apenas parcial, traz maus prenúncios: a defasagem entre o crescimento do consumo e o crescimento da produção, na ordem de três pontos percentuais negativos para a produção.

Digo que a informação é parcial porque o número divulgado é relativo: não se disse sobre que valores absolutos incidem os oito por cento do aumento do consumo, ou os cinco por cento do aumento da produção. (É como aquela história de que a economia que mais cresce no país é a do Pará: 1% de crescimento da economia paulista é duas vezes mais que 100% de crescimento da economia paraense). A diferença, nos números absolutos, parece ser grande, ou não se justificaria a tentativa de freio no consumo.

Ainda bem que o efeito da distribuição de dinheiro, sem compromisso de produção, feita pelo governo Lula, começou no mandato do próprio. Mais alguns meses, e os demagogos de plantão vão ver o povo sentir que a “distribuição de renda através das bolsas”, como gosta de dizer a propaganda oficial, é um engodo. A pressão de consumo sem produto novo anula o dinheiro doado, simplesmente porque os preços sobem. E não adianta aumentar os juros – a chuva de bolsas atira no mercado, todos os meses, uma demanda regida pela lei mais básica da economia: a da oferta e da procura. O preço sobe, com ou sem taxa de juros.

Lula recebeu o país organizado e cultivado, depois de oito anos de trabalho duro e austero. Na ânsia de colher os frutos, pisoteou a plantação, encheu a lavoura com os gafanhotos da corrupção e a praga da demagogia. Essa ânsia, somada ao seu despreparo, vai levá-lo mais longe, e não tenho receio algum que o que vou escrever não vá acontecer: ele acaba de declarar, enfático como em todas as vezes que fala bobagens fora do país, que não dá teco nem piteco no controle econômico. Vai se desdizer logo, logo, quando a alta do custo de vida reduzir-lhe a popularidade a níveis alarmantes - porque a única coisa que altera, no Brasil, a apreciação positiva de qualquer governante é a carestia de vida, a alta de preços. Ele poderá até tentar – como fizeram e fazem seus pares, governantes sem solução e, portanto, sem saída – jogar a população contra o empresariado. Poderá tentar tabelamento, racionamento, tudo o que já se experimentou contra a inflação. Nada disso resolverá, porque a raiz do problema está no cerne da sua política social. Dinheiro a fundo perdido para você gastar como quiser – sem nem querer saber de onde vem o feijão ou o radinho de pilha.

E este é só o primeiro efeito dessa política. O segundo virá logo, logo: a pressão pelo aumento do valor das bolsas, vinculadas ao salário mínimo, visto que parte do poder aquisitivo está comprometido. O terceiro é o aumento da carga fiscal, para sustentar o poço sem fundo. É a seqüência do kit sem-vergonhice que circula na internet...

O “partido que sabe governar” – cujos governos, aliás, registraram as mais altas taxas de inflação da História do Brasil – está nervoso. O poder vermelho está raivoso. A trombada com a realidade é dura: dinheiro fácil, diz o ditado, facilmente acaba.

Nossa sorte é que o Brasil é mais vigoroso que qualquer governo.