segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A tribo nem-nem

Alguns estudiosos chamam de geração nem-nem. Acho a palavra “geração” muito ampla e muito injusta: a grande maioria de nossa geração de jovens está em outra. Chamo de tribo: a tribo nem-nem, composta de jovens com idades entre 16 e 24 anos, que não estudam nem trabalham. Estima-se que entre 15% e 20% dos jovens nessa faixa de idade participe da tribo.
Suas condições de vida são diversas: mães precoces cuidando dos filhos; jovens com algum tipo de deficiência, principalmente mental, entre outros casos específicos. Mas há uma grande quantidade de simples desocupados, que alguém mais rigoroso e desabrido poderia chamar de vagabundos.
Onde eles estão, é fácil saber: na rua. E em tudo o que se movimenta nela: torcidas, protestos, sereno de hotel de pop-star, praia, shows gratuitos. Eles moram geralmente na casa dos pais ou de um parente próximo. Não querem nada: largaram os estudos e, sob pressão, até arranjam algum trabalho ocasional. Falam de desemprego, mas jamais procuram sair dessa.
Nada demais – desde que o mundo é mundo que existem esses tipos e por causa deles que o sétimo pecado capital é a preguiça. O que me chamou atenção foi a quantidade: um quinto de toda uma geração se recusa a participar de qualquer tipo de produção. Evidentemente que na tribo nem-nem devem estar também delinquentes e bandidos – mas isso não é privilégio só dessa tribo. Qualquer professor pode confirmar isso.
Transição estrutural, talvez, como quer Wallerstein, cujo último artigo reproduzi na postagem passada? É verdade que há muitos registros históricos de, em épocas de crise econômica, jovens saem vagando sem rumo por seu país. Ou emigram. Mas o Brasil não está numa crise tal que ficar no mesmo lugar signifique morrer. Há oportunidades. Há mercado formal, há mercado informal. Há escolas, incentivos oficiais e privados. Eu penso que “transição estrutural” é um termo vasto demais para justificar isso aí.
A tribo nem-nem vive mal, tanto de corpo como de alma. Vive somente o presente e não pensa e nem quer saber de futuro. Nem por isso, tem filhos, que cuida mal ou entrega para adoção. Esmolam, trocam favores, furtam e odeiam qualquer disciplina, mesmo a brandíssima disciplina colegial de hoje. Literalmente desperdiçam a sua vida.
Ela está crescendo, essa tribo, segundo o IBGE, que tira os dados da Pesquisa Mensal de Emprego. Alguns dizem que a solução para eles está na educação, que me parece ser usada hoje como outra panaceia universal. O problema é que um membro da tribo nem-nem não quer saber de estudo. Aliás, não quer saber de nada que signifique esforçar-se por alguma coisa. É preguiça, mesmo.
E combater a preguiça é uma das coisas mais difíceis que existem. Tudo porque só a pessoa pode resolver esse problema. É como se livrar de qualquer outro vício: a primeira coisa necessária é querer. O que, para a tribo nem-nem, é complicado demais.